quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Depois de muitos rascunhos salvos e não publicados, resolvi vir aqui e dizer o que já compreendo há algum tempo embora não quisesse de todo aceitar: esse bloguinho, pelo menos temporariamente, não está funcionando como um meio de expressão para mim. Vivendo aqui, com esse tipo de vida tão diferente da minha vida anterior, não consigo me conectar com os assuntos de que gosto de falar aqui de uma forma profunda. Então, oficializo a pausa do blog... De qualquer forma, ainda vai ficar aberto aqui pra quem quiser ler. De minha parte, vou estar em outro blog, mais pessoal. Meu contato também está por aí se precisar. Abraços e felicidades pra ti, leitor@!
Até mais ver!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crescente

Sei que andei sumida. Mas estou com saudade de escrever, então resolvi dar uma passada por aqui.
Nos últimos tempos, desde que parei de postar, muita coisa aconteceu. Pra resumir: fui aceita num programa de mestrado em performance e estou estudando de novo, só que nos Estados Unidos. Cheguei aqui na semana passada e ainda estou me adaptando, ao ambiente, ao ritmo de estudo que eu já tinha perdido, à língua. Cheguei a pensar em fazer outro blog, em inglês, para treinar minha escrita em inglês, só que chegando aqui eu percebi que já vou ter papel suficiente pra escrever em inglês nas aulas. Cheguei a pensar em fazer outro blog pra ficar me lamentando da minha solidão, mas na verdade tive muita sorte de me cercar de gente legal assim que cheguei aqui e conseguir manter contato com os amigos e amados do Brasil, sem grandes choques. Então acho que vou simplesmente continuar a escrever aqui, esporadicamente, do mesmo jeito que eu fazia antes. Ainda acompanho o que acontece no Brasil (virtualmente, é claro, mas acompanho) então acho que não vou viajar demais.
O lugar vazio é onde eu estava sentada antes de levantar para tirar a foto (destaque para o agora inseparável Webster's)
Então, só passei pra avisar que estou viva e que vou passar por aqui de vez em quando. Recado tá dado.
Abraços :)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

sobre anticoncepcional injetável

Hoje é a Segunda Vermelha, dia que se celebra a menstruação.Como já escrevi sobre coletores/copinhos menstruais, resolvi postar mais uma parte do post sobre anticoncepção que escrevi, que acho que está ligada a esse assunto de alguma forma.
A conversa é sobre anticoncepcional injetável, supressor da menstruação - porque, pelas conversas com amig@s, parece ser o anticoncepcional sobre o qual as pessoas mais têm dúvidas e preconceitos, e por mexer com a relação que as mulheres têm com a menstruação.

Fiquei quase três anos sem mestruar, na adolecência. Senti falta e voltei, e hoje eu tenho uma relação quase mística com esse período, que pra mim é de recolhimento, de contato com o corpo. Mas tem mulher que sofre que nem um bicho por menstruar, sente dores horrorosas, incapacitantes, e fica meio maluca com TPM. E se a ideia é desmistificar a menstruação, tem que acabar também a ideia de que a menstruação é uma condenação para o sexo feminino, que tem que ser uma obrigação, por maior que seja o sofrimento. Se você não quer, não gosta ou simplesmente sente que deus errou na conta e você não deveria menstruar, tem que saber que existe tecnologia médica para suprimir a menstruação sem riscos para a saúde, sem problemas para a sua fertilidade ou feminilidade, sem "fazer mal".
Existem mais mitos ainda sobre os anticoncepcionais injetáveis do que sobre a pílula, sendo que os efeitos colaterais e riscos à saúde são basicamente os mesmos dos outros métodos hormonais. Especulação existe muita, mas provas e ciência de fato, muito pouca. A maioria das pessoas que condena a supressão da menstruação que eu conheci tinham como principal argumento "não é natural". Quer dizer, né. Dá pra condenar qualquer conquista, qualquer nova tecnologia, com esse argumento.
 
Usei Depo-provera trimestral por dois anos e meio, e foi uma relação de amor absoluto. Só parei de usar por dois motivos: porque tenho contra-indicação médica para uso prolongado, por problemas circulatórios na família, e porque fiquei com saudade de menstruar.

O que posso dizer de vantagens:

- é mais seguro. A margem de falha é menor na bula, e não existe margem para falha humana, como em outros métodos (não tem possibilidade de pular um dia, ou de colocar errado).
- é mais prático. Você não tem que carregar pra onde for, nem tem que cuidar horários.
- é (relativamente) barato. eu gastava no máximo trinta reais para uma aplicação que durava três meses. Hoje em dia gasto quase isso por cartela de pílula...
- não engordei. pelo contrário, foi no período que tomava que consegui emagrecer.
- não tive espinhas, problemas na pele, ressecamento/quebra de cabelo ou unhas, nem nada assim...
- não senti diminuição da libido.
- não tive alterações de humor. ...a menstruação some, então a TPM vai junto.

O que pode ser desvantagem:

-a aplicação... - às vezes é difícil achar um@ profissional de confiança que faça a injeção bem feita. Aplicando em hospital nunca tive problemas, mas aplicando em farmácia, já aconteceu de eu ser atendida por pessoas inexperientes (ou profissionais mal-capacitados mesmo, sei lá) e ficar com dores depois da aplicação, com hematomas... Já paguei também valores estranhos (tipo sete reais pra aplicar uma injeção - normalmente é 3 reais em média)...
- "sangramento de escape" - digamos que o corpo demora para se acostumar a não menstruar. Você pode imaginar o que acontece. Posso te dizer que não acontece como uma menstruação normal, não tem acidentes na roupa ou cólicas nem nada assim, é mais uma chateação mesmo.
- não menstruar - dependendo da sua relação com a menstruação, não menstruar pode não ser tão bom assim. Por exemplo, você não tem a segurança de saber, com aquela certeza absoluta, que não está grávida. Também não tem o período mensal de recolhimento que a menstruação te obriga a ter. 



Enfim. Acho que pode ajudar alguém haver esse relato pessoal, porque pelas minhas pesquisas muitos links indicam que aumento de peso e acne são efeitos diretos da injeção, entre outras informações incorretas. Depois que saírem, linko alguns textos legais sobre a segunda vermelha aqui. Abraço!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

das discussões sobre cotas

Nunca tive uma discussão sobre cotas em que a parte "contra" não acabasse denunciando um racismo raivoso em algum ponto da conversa. Da última vez, uma criatura teve a capacidade de dizer que os negros "tem vantagens e ainda querem que aceitemos que eles são evoluídos". Juro. Foi triste. Mas mais triste é se sentir obrigada a continuar a conversa. Explico.
Hoje, o STF declarou constitucionais as cotas raciais - depois de não sei quantos anos de cotas nas universidades - uns dizem que a primeira foi em 2004, mas li no twitter alguém falando em 2002. Quase dez anos. Então, tem muita gente incomodada, repetindo por aí os velhos argumentos contra ações afirmativas.

STF ontem. Imagem de http://migre.me/8QNrH
Nessa história se pode falar de evolução também. Evolução, segundo Darwin, é um processo que depende da adaptação da espécie às condições do meio. Não sou muito boa em biologia, mas é isso, né? Então. Aqui, enquanto algumas pessoas preferirão ficar anos espumando raivosamente pela perda de um privilégio, outr@s têm capacidade de mover o olhar para o presente e se adaptar.
Para alguns, a decisão do STF sentencia que os negros estarão agora oficial e legalmente tirando vaga dos brancos, e quem é racista de coração não vai nem tentar ver a coisa de outra forma. Mas nem todo mundo é racista de coração, felizmente. A maioria só repete o senso-comum. E é senso comum achar normal haver poucos ou pouquíssimos negros em espaços de poder - seja esse poder expressado por postos de trabalho altos, por ideias ou pela educação - e pensar que essa situação é culpa das vítimas (assim como também é senso comum se opor a mudanças no senso-comum, é o instinto de sobrevivência da bactéria). Discriminação pura é tacanhice, está engessada. Mas a repetição do senso comum pode ser questionada.

Haverá cada vez mais negros na universidade - nas salas de aula, e não limpando o chão ou cuidando da portaria - e todos terão que respeitá-los. No futuro, racistas ou não terão que obedecer mais negros, que estarão mais frequentemente em postos altos, e não poderão se revoltar por receber salários menores do que os deles. Terão que ver escolas de províncias, de favelas e de aldeias indígenas melhorando, ganhando professores conhecedores da realidade local e bem formados em universidades de qualidade... O horror, né? É a evolução da cultura, da sociedade. Questionemos nosso racismo velado e nos adaptemos, ou pereceremos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Marchando contra a corrupção? Conte-me mais...

Enquanto acontecia o Fórum da Liberdade (hahahaha) em Porto Alegre, a classe média mobilizada pelo facebook e pelo twitter marcha "contra a corrupção", assim genericamente, em várias partes do país. Fiquei com algumas dúvidas.

- Se alguns coletivos ligados a partidos que apoiaram a marcha são justamente alguns dos que estão no topo da lista de partidos com maior número de cassações feita pelo TSE, contra a corrupção de quem esse povo está marchando?

- Corrupção = mensalão e dinheiro na cueca. Ok, é mesmo. Mas e a lentidão pra resolver/investigar a "crise" do judiciário, tá ok? Mídia comprada tá ok? Sonegação do papai tá ok?

- Será que a mídia terá cara de pau para chamar manifestantes de esquerda de arruaceiros que precisam do controle da polícia depois de sua própria marcha ter acabado em porrada? Sim ou com certeza?

- Foram jovens "anonymous" mobilizados via evento de facebook que pagaram os panfletos de papel brilhante divulgando a marcha que povo diz que tava recebendo? Quando as notas fiscais vão estar no álbum do evento?

Se alguém souber de alguma coisa me dá um toque! Obrigada.

6 itens para lidar melhor com a divisão de tarefas domésticas - para mulheres

Uma das coisas que não mencionei, em nenhum dos textos (nem nesse nem no anterior) foi a possibilidade de algumas pessoas de manter empregada doméstica (tem um texto legal sobre isso aqui). Só porque quando estou escrevendo penso em mim mesma em gente jovem que provavelmente está começando a vida, morando sozinh@, universitário, estagiário, com pouco dinheiro... E admito que não abri muitas possibilidades para casais não-hetero, principalmente porque imagino que na relação homem-mulher esses papéis sejam mais "subentendidos" e menos discutidos (pode ser preconceito meu também).

Apesar disso a lista para as mulheres é tão longa quanto a dos homens, ainda que tenha menos itens (é, tenho que aprender a fazer posts mais curtos...). Fiquei revisando por dias pra ver se não deixava nada de fora, mas acho que, talvez por eu ser mulher e já ter vivido essa situação de vários pontos de vista/papéis diferentes, me pareça tão multifacetado que é difícil abarcar todas as possibilidades. Escrevi o que lembrei.




1. Não queira ser super-mulher. Ter jornada dupla ou tripla não é seu dever "natural" por você ter nascido com uma vagina no meio das pernas. Os tempos mudaram e os papéis não são mais fixos. Se antigamente só os homens trabalhavam e as mulheres só cuidavam da casa, agora ambos podem transitar entre os dois papéis. Apesar disso, algumas pessoas tentam de alguma forma manter aquele sistema antigo, incluindo o trabalho na vida da mulher sem equilibrar a balança - e pior, tem gente que diz que quem fez isso foi o feminismo! Gente, quem faz isso é o machismo. Quem diz que você tem que ser excelente em tudo o tempo todo para ser considerada tão bem-sucedida quanto um homem comum, que faz apenas suas tarefas normais, só pode ser um sistema que vê as mulheres como inferiores. Mas você não precisa concordar com isso!

2. Dê valor para o seu tempo. Temos só 24h por dia e um limite de energia - e são essas poucas horas e essa energia limitadas que tod@s têm que distribuir entre dormir, ir na academia, socializar, fazer sexo, estudar... E, entre outras coisas, limpar e arrumar a casa com perfeição de capa de revista de decoração. São raros os dias em que dá tempo de fazer tudo com qualidade. Se pergunte qual dessas coisas é mais importante fazer com qualidade, para você. Em que vale mais a pena gastar o tempo livre.

3. Não seja escrava de si mesma (vulgo a neurótica da limpeza).
 Aqui no Brasil, boa parte d@s don@s de casa de classe média-alta têm uma escrava empregada apenas para limpar a casa. E aí sempre ouvimos que se cada canto da casa não estiver limpo, polido e desinfetado, é porque a empregada é relaxada, né? Mas dentro da sua casa, se você não está sendo paga, quem está te cobrando perfeição? Esse "patrão" te dá alguma compensação além de estresse?

4. Enxergue, e faça os outros enxergarem, que tarefas domésticas SÃO trabalho. As tarefas relacionadas à intimidade sempre foram desvalorizadas, mas só quem faz faxina todo dia sabe quanto é cansativo. Se você está sobrecarregada, não precisa de dicas de revista para lidar melhor com as jornadas múltiplas, e sim da ajuda das pessoas que estão ao seu redor. O senso comum diz que mulheres são mais perfeccionistas, e que homens "não sabem fazer serviço de casa" - criando donas de casa controladoras, centralizadoras - só que isso não é exatamente verdade. Entenda, e faça seus colegas ou sua família entenderem, que mulher também é gente.
4a. Não veja o serviço doméstico como um favor que você faz à sua família/colegas. Fazer o serviço dos outros por eles não vai necessariamente ser reconhecido como um favor. Muito menos será um favor retribuído... E isso não é porque os outros são ingratos, e sim porque... Você fez porque quis, mesmo.

5. Diminua o estresse do dia da faxina. Tente não se aborrecer (e não aborrecer os outros) por achar que o jeito deles fazerem suas tarefas não está "certo". Claro que sugestões podem ser feitas, mas se tem que ter delicadeza: @ outr@ também tem sua cultura, viu a mãe fazer daquele jeito, etc. E se você acha o trabalho da pessoa lento demais, pode ser que el@ ache que você não está caprichando, por estar fazendo rápido, por exemplo. No fim, quem está certo? Ninguém.

6. Esteja disposta a ensinar. 
Se você convenceu a criatura a te ajudar, seja paciente com a falta de hábito (e com uma eventual má-vontade) del@. Nas primeiras vezes que a gente faz qualquer tarefa, ela sempre parece mais cansativa, mais longa e mais difícil. E ter alguém ralhando não é exatamente um estímulo. Se a criatura em questão nunca fez uma faxina na vida, é mais culpa da família e da sociedade que @ educou assim do que del@ própria.

Espero que seja aproveitável! Sugestões, discordâncias, adendos, comentários, são bem-vindos.
Boa semana!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

14 itens para lidar melhor com a divisão das tarefas domésticas - para homens

Depois de muito rascunhar, decidi fazer duas listas com alguns itens que aprendi com a convivência em família, dividindo apartamento com colegas e morando com meu noivo. A primeira, que apresento aqui, é para os homens (a lista para mulheres sai em seguida!). Tentei não reclamar demais, apesar de ter um histórico chato com colegas (tenho a sorte de ter um noivo e um pai super conscientes), e fazer com que os chapéus servissem tanto para quem é casado quanto para quem divide a casa com colegas ou mora com os pais. Espero que se identifiquem (ou não) e que levante alguma reflexão! :)


1. Saiba fazer faxina. Mesmo que more sozinho, ou com os pais, porque é um aprendizado para a vida. Uma das coisas mais broxantes para uma mulher é descobrir que um homem aparentemente interessante na verdade é um menino mimado que não sabe organizar a própria casa sozinho.
Se você teve empregada (ou se sua mãe foi sua empregada) a vida inteira, saiba que não há garantias que isso funcione assim para sempre. Além disso, a organização e limpeza da sua casa vão ser alguns dos filtros que as mulheres vão usar para te julgar uma cara legal ou não (acha ruim ser julgado? Vai morar em marte!).

2. FAÇA faxina. Se tiver menos tempo que os outros, tente pelo menos ajudar. As pessoas ao seu redor não são suas babás nem empregadas.

3. Não suje. Você não parece mais macho se movendo como um ogro e manuseando as coisas como se tivesse o dobro da força e do tamanho que tem. Claro que tem gente que é desastrada, mas tem muito homem que derruba, derrama, atira coisas pelo caminho simplesmente porque foi criado com a mãe sempre atrás juntando/limpando a bagunça que ele fazia. Então, se você pretende sair da casa da sua mãe um dia, aprenda a ser cuidadoso, para poupar trabalho para você mesmo e para quem vier a conviver com você.


4. Aprenda a lidar com o fato de que as coisas se sujam sozinhas. Só o fato de ter gente vivendo dentro de uma casa já vai fazer ela sujar, então, não é porque não foi você que sujou que você não precisa ajudar a limpar. Se você é o clássico imbecil da república que molha as mãos no detergente pra lavar só os copos que você usou e deixar o resto sujo porque "não é sua louça", faça o favor de crescer.

5. Aprenda a lidar com o fato de que a faxina não acontece sozinha. Alguém tem que limpar. Se ninguém limpar, vai continuar sujo. Aliás, vai ficar cada vez mais sujo.

6. Não finja que não enxerga quando a casa precisa de faxina. A menos que você queira que @s outr@s habitantes da casa pensem que você tem algum problema mental.

7. Não se esconda atrás da suposta "falta de habilidade" masculina. Isso é uma bobagem enorme. Qualquer um pode ser bom em qualquer coisa, se quiser e se esforçar. Preguiça de aprender é falta de consideração com quem mora com você. Pese o que você acha mais lucrativo: se mexer um pouco e ser o colega/marido amigo, ou não ajudar e ser visto como o folgado da casa.

8. Esteja disposto a aprender. Claro que vocês, homens, não foram educados para manter o lar, como a maioria de nós mulheres, e é provável que realmente saibam menos sobre limpeza. Mas tudo nessa vida pode ser aprendido, só precisa ter boa vontade e prestar atenção.

9. Se você se comprometeu a fazer alguma coisa, faça. Não fique adiando a faxina por dias (a menos que tenha um motivo muito bom). Se te pediram para fazer algo, é provavelmente porque a pessoa já está sobrecarregada, e prometer e não fazer vai fazer você ser visto alguém sem consideração e pouco confiável. Se você não vive numa bolha, sabe o que esse tipo de sentimento faz com uma amizade (ou com um amor).

10. Faça bem feito o que se propuser a fazer. Qual o lucro de gastar o seu tempo para levantar a bunda da cadeira, molhar a mão no detergente, pra fazer as coisas mal-feitas, pela metade? Lembre-se que são espaços e objetos que você mesmo vai utilizar.

11. Reduza o estresse do dia da faxina. Mulheres às vezes se sentem muito pressionadas pela sociedade e pela família a manterem as coisas num estado de perfeição absoluta sem pedir ajuda de ninguém. Então, não pressione. Se você não consegue ajudar com um sorriso no rosto, pelo menos faça quieto, sem ficar resmungando. Não compare o trabalho que está fazendo com o trabalho dos outros milimetricamente, se sentindo escravizado ou injustiçado se alguém precisar de uma pausa.
Cobrar é importante se você acha que alguém está se encostando, mas seja razoável nos critérios. Faxina não pode ser um evento traumático, motivo de brigas toda vez que acontece.

12. Não espere confete. Você vive na casa e ela fica suja, em parte, por causa desse simples fato. Ou seja, varrer o chão ou lavar a louça não são atos de heroísmo e as pessoas ao seu redor não estão sendo ingratas por não te recompensar por ter ajudado. É simplesmente sua obrigação como adulto ajudar a limpar o que você ajudou a sujar - conforme-se com isso.

13. Conforme-se com a necessidade desse trabalho. Como disse Platão, o mundo material é corruptível. Quer dizer, as coisas, depois de limpas, sujam de novo, e portanto têm que ser limpas de novo, e assim sucessivamente será, ao longo de toda a sua vida. Brigando ou não, se estressando ou não, incomodando @s outr@s ou não, a faxina vai ter que ser feita. Como você quer encarar esse momento que vai se repetir tantas vezes ao longo da sua vida?

14. Se adapte à nova realidade da sociedade. Antigamente as mulheres mal podiam sair de casa, o que as obrigava a fazer todo o serviço doméstico, até pra não morrer de tédio. Mas esse tempo passou, e não volta mais, quer você queira quer não, quer você goste ou não. Você pode manter suas certezas irredutíveis a respeito da ordem e dos papéis na sociedade se quiser, mas a verdade é que se você for da minha geração (20-30 anos) ou mais novo, vai ter que se adaptar ao fato de é difícil achar uma mulher da nossa idade que vá ficar feliz em ser sua babá e empregada sem ganhar salário para isso. E quanto mais inflexível você for em querer que as mulheres ao seu redor sejam "como as mulheres de antigamente", maiores as chances de acabar a vida sozinho, sem amig@s e sem amor, e lavando as próprias cuecas. Se adapte ou pereça.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Pousando

Voltei depois de um tempo offline. Coisas difíceis aconteceram, incluindo a internet wireless do vizinho parar de funcionar, e eu não consegui postar. Mas eu voltei, agora pra ficar, larara...

Uma coisa que posso dizer é que já não prometo post toda semana. Eu tentei. Eu tinha que tentar! Mas não dá.
De qualquer forma, vou continuar postando. Até porque, assunto, nessa semana louca, não tá faltando.
Até a próxima (que chega daqui a pouco)!

segunda-feira, 19 de março de 2012

Sete informações essenciais sobre anticoncepcional hormonal

Acho que, na minha geração e "nível social" (odeio essa expressão, mas...) quase toda mulher tem uma boa quantidade de experiências com contracepção. Para nós, o acesso à pílula e à camisinha está cada vez mais simples, barato e próximo, tivemos aquelas maravilhosas aulas de educação sexual no colégio, explicando como colocar uma camisinha com uma banana como "modelo"... E apesar de tudo isso, estamos longe do equilíbrio: a informação sobre contracepção existe, mas chega até nós de forma insuficiente, inexata, até meio supersticiosa, e mesmo assim, somos nós, as mulheres, as responsáveis quase exclusivas da tarefa de evitar filhos, e portanto também responsáveis quase exclusivas caso "algo errado" aconteça.

Escrevi um post que ficou quilométrico sobre minha experiência com contracepção, então separei-o em dois. Neste aqui, vou citar sete informações básicas sobre anticoncepcional hormonal que, infelizmente, nem todo mundo conhece. Boa parte dos itens dessa lista vieram de perguntas que ouvi no meu convívio social, de colegas do colégio particular, de colegas de faculdade, de parentes. Tudo gente "esclarecida" e "de bom nível", mas vítimas do silêncio sobre o assunto.

Essas informações vieram da minha experiência de ler minuciosamente as bulas dos vários anticoncepcionais diferentes que já tomei (sim, eu sou meio hipocondríaca), de acompanhar, de uma maneira geral, notícias sobre saúde da mulher, e de algumas pesquisas no google que fiz só para o post.
Espero que seja bom e útil.


1. Anticoncepcional nenhum te deixará estéril para toda a vida.
São métodos reversíveis. Nunca li em nenhuma bula nem sequer um efeito colateral que pudesse causar infertilidade.

2. Anticoncepcional não dá câncer. 
O número de casos de câncer de mama e de colo de útero é praticamente igual entre mulheres que usam e mulheres que não usam anticoncepcional, e como há vários fatores diferentes para o desencadeamento de qualquer tipo de câncer (genética, fumo, sedentarismo... vocês sabem), não dá pra dizer que ele seja um grande responsável. Existem, inclusive, evidências de que alguns anticoncepcionais até protegem do câncer.

3. Ter usado anticoncepcional não levará a malformações fetais numa futura gravidez.
Não tem nenhuma substância que possa ficar no seu organismo depois que você para de usar pílula ou injeção que tenha esse efeito. Os hormônios da pílula são sintéticos, mas são produzidos "imitando" os hormônios naturais que temos no corpo, inclusive os hormônios da gravidez (que fazem o feto ficar mais saudável, e não doente).

4. Anticoncepcional pode falhar sim, mesmo se você usar bem direitinho. 
Mas olha, tem que ter UMA SORTE... 

5. Anticoncepcional hormonal demora um certo tempo para ser absorvido e fazer efeito. 
Não dá pra fazer a injeção ou começar a tomar pílula no dia que você pretende dormir pela primeira vez na casa dele. Os hormônios trabalham para evitar que um óvulo fique disponível, mas eles não podem fazer nada se já tiver um óvulo disponível lá quando eles chegarem - e você pode ter ovulado, sei lá, ontem.
Normalmente essa adaptação é o tempo de um ciclo, uma cartela ou uma injeção, ou um mês. Se @ ginecologista não te disse nada, dê essa margem, só por via das dúvidas...

6. Não existe "anticoncepcional bom" e "anticoncepcional ruim". O anticoncepcional que a vizinha amou pode ser horrível para você. 
Não tem uma marca que engorde menos, outra que dê menos espinha, ou coisa assim. Tudo depende de achar uma pílula, injeção ou outros cuja fórmula fique em equilíbrio com suas quantidades naturais de hormônio. E isso varia de mulher para mulher, de corpo para corpo. 

7. Anticoncepcional é um medicamento, e como tal interage com outros medicamentos, 
portanto tem que ser mencionado na consulta médica!

Cansei de dizer para @ médic@ que não tomava remédio nenhum quando el@ perguntava, quando a consulta era feita por alguma gripe forte ou inflamação qualquer. Mas o fato é que anticoncepcional tem que ser, sim, mencionado. Primeiro porque há medicamentos que interferem na sua ação, como antibióticos. Segundo, porque alguns sintomas, como diarreia e vômitos, afetam, em si, o funcionamento dele. 
Tem que se ter em mente que nem @ médic@ tem obrigação de adivinhar o que você toma, nem tem direito de te julgar (acho que quase ninguém julga alguém por tomar anticoncepcional hoje em dia. Mas tem famílias que ainda tratam isso como uma coisa para se esconder, o que dá um sentimento ruim).

segunda-feira, 12 de março de 2012

Coletor menstrual: minha experiência

Escrevo hoje sobre minha experiência com coletor menstrual. Para quem ainda não teve contato com essa maravilhosa invenção da humanidade, vou esclarecer algumas perguntas comuns:
Imagem de Meluna

O que é? 
O coletor menstrual é um "copinho" ou uma "tacinha" feita de silicone cirúrgico, feito para coletar o sangue da menstruação. Agora parece que o nome é auto-explicativo, né?

Como se usa?
Você tem que posicionar ele , com o copo virado para cima, obviamente. :-P Como ele é feito de silicone, pode ser dobrado ou enrolado de várias formas, e quando você solta ele volta ao formato original, se adaptando às formas do corpo. A forma de colocar é como se fosse um absorvente interno, só que fica bem na entrada da vagina (não precisa "empurrar").
Para tirar, você tem que usar seus músculos pélvicos tipo um pompoarismo para forçar ele um pouquinho para fora, e puxar pela base.
Você tira, lava com sabão neutro e insere de novo - o que torna ele um produto bem ecológico, porque não gera resíduo, e econômico, porque não é descartável e você usa o mesmo por anos.

Como funciona? 
Seguindo a lei da gravidade - o que cai, fica coletado. O que você "sua" (a lubrificação natural) não é absorvido, o que faz o seu uso ser bem mais confortável do que um absorvente interno comum. A maioria das marcas tem dois tamanhos, que são adequados de acordo com a idade e o tipo de parto (se for o caso) de cada mulher, para o silicone ficar bem no formato do corpo e não correr o risco de nada vazar.

Coletor de glitter da Meluna
Minha experiência:


Uso um coletor menstrual, da marca Lunette, há mais ou menos três anos. Comprei pela internet, diretamente pelo site da fábrica, localizada na Finlândia. Não posso dizer se havia venda no Brasil naquela época, mas acredito que se havia, era algo muito underground, até porque mesmo hoje há poucos pontos de venda aqui. As marcas que mais tenho ouvido falar aqui no BR são a Misscup e a Meluna, mas há várias outras. Quando eu comprei, só havia um tipo de copinho, como esse aqui embaixo. Mas agora já se vê copinhos coloridos, com vários formatos e comprimentos diferentes de "puxadores" na base - tem até copinho com glitter, que é muito lindinho! 


Quando comprei, paguei 25 dólares, mas 20 dólares pelo frete, ou seja, mais ou menos 80 reais. Parece caro, mas pense só: um pacotinho de absorvente, que é o que eu usava a cada mês, custa em média quatro reais. Isso dá quase 50 reais por ano. Um coletor pode ser usado por mais de cinco anos (no meu manual, diz "de cinco a dez anos"). Deu pra fazer a matemática final?

Quando comecei a usar, minhas principais dúvidas eram essas:

- A colocação e retirada X minha tendência natural ao desastre
Há relatos, na internet, de mulheres que não conseguiram se adaptar ao coletor, que não conseguem colocar da forma correta, que sentem ele ao longo do uso, que o coletor vaza. Aconteceu comigo, na primeira vez que usei, de sentir E vazar - mas foi uma questão de sentir e adaptar. No segundo ciclo, já sabia bem o que tinha que fazer. 
Na retirada, quando eu li a descrição de como fazer, tive a impressão de que ia sempre fazer uma baita bagunça... Mas nunca fez. É difícil explicar, mas de alguma forma fica tudo no copinho tranquilamente. Claro que não é um processo muito rápido, tem que tirar com calma...

- O "nojinho":
pensei que ia ser meio estranho lidar tão diretamente com meu próprio sangue, mas foi muito diferente do que eu imaginava. O caso é que, em contato com o ar, o sangue oxida (ou coisa assim) o que faz com que ele mude de cor, de textura e de cheiro, e é esse processo que faz a gente ter um pouco de nojinho do sangue que fica no absorvente. Mas o sangue como está lá dentro do útero (e como fica no coletor) não tem nenhum odor. Outra coisa que muda: você vê que, na realidade, menstrua muito menos do que pensava, porque o absorvente comum "espalha" o sangue e dá uma impressão errada da quantidade.

- A limpeza:
pensei que talvez fosse correr mais risco de contrair infecções ou micoses, pela reutilização. Mas tem um esquema de fervura, para desinfetar o copinho, que deve ser feito antes e depois de cada ciclo. Claro que você tem que comprar uma panelinha só para isso, né. Mas é super fácil - ferve por cinco minutos, e é como uma autoclave. Nunca tive nenhum tipo de problema.
Existe aqui no Brasil uma cultura que engrandece demais o uso do que é descartável, como se a coisa ser descartável e vir embalada em bastante plástico garantisse algum tipo de pureza indescritível (porque plástico não suja, né). É um pensamento ótimo, para quem está vendendo o negócio que tem que ser comprado sucessivamente. Não sou especialista e não posso questionar isso de frente, mas tem outras questões: quem já leu a "bula" do o.b. sabe que, com seu uso, pode ocorrer síndrome do choque tóxico por proliferação de bactérias. E quem nunca teve irritação na pele por causa do material do absorvente comum? De onde vem esses problemas? Não sou de acreditar que é o meu organismo que está errado assim de cara, não.

... e a pergunta que não quer calar....

Se é tão bom, porque não ouço falar disso por aí?
Tenho minhas teorias sobre isso. Primeiro, porque menstruação ainda é tabu, infelizmente, e pouca gente divulga esse tipo de material (razão de eu estar fazendo isso aqui). Segundo e, principalmente, pergunte a si mesmo: o que seria da indústria das "fraldinhas" e "tampões" se tod@s conhecessem esse dispositivo, que é econômico, reciclável e ecológico, e que praticamente obriga a mulher a conhecer o próprio corpo? O que, ainda por cima, pode dar a ela recursos para fugir de enganações da indústria farmacêutica do tipo "sua vagina é naturalmente suja e você devia desinfetá-la com nosso sabonete caro", ou "se você se fere com o absorvente comum, é porque sua pele é sensível demais e não porque nosso material é grosseiro, compre o absorvente com ervinha tal adaptado para o seu caso"... etc etc etc...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mês de março, mês da mulher

Eis que chegou o dia internacional da mulher! Dia de receber rosas aleatoriamente e dia de ser a chata militante do facebook. De receber alguns bons elogios, e por outro lado passar um pouco de vergonha alheia (ou muita vergonha alheia) com homenagens toscas e exaltação ingênua ou não ao machismo. Mais um 8 de março como todos os outros anos.
Estou com pouco tempo para escrever, mas tem muitos textos bons para serem lidos por aí. Alguns:

Outros Marços virão, da Maíra Kubik, em Blogueiras Feministas

Compilação de eventos no 8 de março, nas Blogueiras Feministas

Feminismo em versão 2.0, na Gazeta do Povo

O dia (a dia) da mulher, da Aline Valek, em Contos e Notas

8 de março, dia de você repensar o seu machismo, no b33p

8 de março, mais um dia de luta, da Mari Moscou, em Mulher Alternativa

Tem muito mais por aí, que eu não pude incluir.

Alteração em 12/03: Blogueiras Feministas publica um post lindo: Dia da Mulher 2012, fazendo tipo o que eu fiz aqui, só que melhor. ;)

Ao longo do mês de março, para marcar essa data de outra forma, vou escrever alguns posts "temáticos" sobre minha vida de mulher e questões femininas que podem ser úteis e interessantes pra muita gente.

12 de março - minha experiência com coletores menstruais;

18 de março - minha experiência com contracepção;

25 de março - minha experiência com divisão de tarefas domésticas.

Até os próximos ;)

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

A mudança e a loucura

Essa semana é de grandes mudanças, a começar por uma essencial: mudar de casa!
Estou indo morar com o marido em definitivo.  Está uma loucura de catar documentos, visitar apartamentos, olhar sites de imobiliárias, lidar com atendentes às vezes prestativos e às vezes grosseir@s. Para melhorar, consegui uma bela contratura muscular no pé e na panturrilha que me faz ter que ir bem devagarinho para todos os cartórios, imobiliárias, apartamentos - e quando acaba a paciência, pegar táxi ou ônibus.

Isso tudo, no meio da primeira semana de volta às aulas, quando os horários das escolas estão sendo adaptados. Também no retorno dos ensaios de orquestra e dos projetos. E a busca por um novo professor, já que não tenho mais aula gratuita e de qualidade na federal.

Onde quero chegar é que vai haver um hiato aqui. Quando eu conseguir tirar as árvores caídas do meio da rua, consertar os fios de luz, e colocar telhas novas, eu volto.

Abraços e feliz "ano novo" a tod@s!

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A vovozinha e o feminismo

Para quem ainda não viu, faça o favor a si mesmo e assista o curta brilhante da Renata Druck: A Vovozinha e o feminismo.
Nele, "vovozinhas" feministas contam como era o universo da mulher de anos atrás, e falam da luta para conquistar espaços e atitudes que, para as gerações mais novas, já parecem naturais. Incrível para pensar nas datas - pensar que coisas que "sempre foram assim" na verdade eram diferentes há trinta, quarenta anos atrás. Que ideias "de antigamente" eram a norma até agora há pouco.


A Vovozinha e o Feminismo from Renata Druck on Vimeo.


E viva o Partido da Vovozinha Feminista!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

É carnaval...

...disso você está careca de saber. Já abre o facebook sabendo o que vai ler: posts de gente super animada para o carnaval e as bebedeiras e a pegação e etc intercalados com posts de gente indignada com a música ruim e as bebedeiras e a pseudo-animação e etc.

Eu do meu lado pretendo ficar à parte desse debate e passar o feriadão o mais longe que puder de qualquer tipo de folia. Meu carnaval será offline, estudando violino e fazendo algumas experiências culinárias (espremências, meu pai diria), afinal não contamos mais com o amigo RU para nos mantermos em pé, enquanto o marido, pós-graduando em fase de "te-vira", estará escrevendo como um condenado aqui do lado.

Volto semana que vem. Espero poder falar de notícias melhores do que as que tivemos essa semana.

Bom carnaval para ti, leitor@!

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Blogagem coletiva: o caso de Queimadas

Escrevo esse post atendendo à chamada para Blogagem Coletiva das Blogueiras Feministas e da Luluzinha Camp, em repúdio ao mais recente caso de violação da dignidade das mulheres (sim, porque eu também me sinto estuprada), na cidade de Queimadas, na Paraíba, pouco comentado na grande mídia, pouco comentado nas redes sociais, difícil de se falar sobre, difícil até de acreditar pelo tamanho da barbárie.





O caso me fez pensar no esteriótipo de agressor de que crescemos tendo medo, e que é, na verdade, muito pouco comum: o agressor psicopata, perturbado mentalmente, que ataca qualquer uma que ande sozinha em alguma rua escura.
O agressor, na verdade, está quase sempre por perto. É um vizinho, conhecido, parente, e não se pensa nele como um perigo a priori.

(...) Em estudo mais recente, Pimentel et al. (1998), analisando dados de estupros coletados em 50 processos referentes às cinco regiões brasileiras, concluíram que 70% dos envolvidos se conheciam e, destes, 18% mantinham relacionamentos incestuosos. (Fonte)

Confiando na amizade ou no amor dos laços de sangue, as vítimas não tomam "precauções" contra esses estupradores. O caso de Queimadas foi um exemplo extremo, brutal, dessa lógica. Mas estupros e abusos partindo de conhecidos infelizmente acontecem a todo momento, em qualquer lugar. Os que não viram notícia, talvez, fiquem anônimos porque não terminam em assassinatos. E a cultura de relativização do sofrimento, de tratar de estupro como se fosse sexo normal e de culpabilizar da vítima, além de aumentarem a dor de quem sofreu a violência, aumentam a possibilidade do violentador não ser denunciado e de a violência se repetir ou até se estender, às vezes, por anos. 

Casos como esse só vão parar de aparecer no dia que começarmos a educar os meninos, sistematicamente, para não estuprarem, ao invés de tentarmos ensinar as meninas a "se defenderem" e "tomar precauções" contra a violência. Quando colocarmos a culpa na pessoa certa - no criminoso, não na vítima, e entendermos que tem que ser vigiado e limitado é o desejo de poder e descontrole dos estupradores, e não o horário e as ruas que se circula, ou o comprimento da saia, ou a quantidade de parceiros, ou as "companhias", ou...
Enquanto esse dia não chega, só espero que esses criminosos tenham uma pena proporcional à sua crueldade.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Assassinos de mulheres não são "malucos"

Eu achei que poderia publicar um post sobre violência contra a mulher antes, quando acabasse o julgamento do assassino Linderberg. Ingenuamente pensei que o julgamento duraria pouco, afinal, o que há de questionável no que aconteceu?
Mas enquanto o julgamento não termina, a mídia relembra o assunto que já parece bem antigo (aconteceu no meu primeiro ano de faculdade; hoje, já estou formada!). E a grande mídia, como sempre, deixa clara uma ideologia a favor do status quo.

Na maioria dos veiculos, quando se trata de violência contra a mulher, a abordagem é sempre a mesma. O homem violento é sempre apontado como psicopata, como um maluco, que teria sido violento com qualquer um que o irritasse. Linderberg era psicopata? Eu não duvido. Mas todos os casos que tem sido postos lado a lado com esse, como a morte da Mércia Nakashima, ou de Eliza Samudio, ou qualquer outro dos que aparecem quase todos os dias no noticiário... Todos esses homens são psicopatas também? Todo dia aparece um caso igual ao outro, e todo dia essas notícias são todas tratadas como casos isolados. A conclusão é que a sociedade está cheia de psicopatas, e somos nós (ou elas) que temos que nos prevenir.

Essa ideia do "psicopata" é excelente para manter a resignação das mulheres que têm em casa um homem comum, honesto, trabalhador, às vezes até amoroso, mas que "às vezes se descontrola" e ameaça, xinga, bate. Esse homem não é psicopata, é apenas machista. Mas além de bater, ameaçar, diminuir, um dia ele pode matar, também.

E é esperado que as mulheres sejam sempre mais fracas fisicamente: as mulheres são ensinadas desde meninas a acreditar nisso, a se sentirem intimidadas e não reagir. O que então se ensina é que as mulheres aceitem as agressões como coisas pontuais, que perdoem, que se resignem, afinal para muit@s o maior valor para a vida de uma mulher é ser casada, mesmo que com um mau marido. E que, já que o mau marido não é "um psicopata", não vai acontecer nada pior.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Novas e dois palpites

Sumi do blog por causa de alguns problemas pessoais. Mas estou aí, sem tanto atraso até.
Não vou falar longamente sobre nenhum assunto (embora essa semana tenham surgido alguns rascunhos para posts futuros). Hoje vou só escrever um pouco sobre duas coisas que vi por aí, dia em que finalmente resolvi tirar a cabeça da areia e fui ler jornal e me atualizar.


1. Sobre o menino que foi espancado aqui na cidade baixa (deve ter passado pela sua TM: depois dos bichos mortos, a nova onda do facebook é espraiar foto de gente que apanhou):

Alô você que chegou a Porto Alegre hoje. Gays sofrem violência aqui desde sempre. Naquele horário de domingo de tardezinha na cidade baixa, a gente tem a impressão de que el@s são muito livres, porque estão em grande número e assim protegem uns aos outros. Mas chega uma hora que eles têm que se separar e ir pegar ônibus ou caminhar para casa. E aí... enfim.
Sorte que a denúncia chegou e conseguiu mídia, apesar de tudo. Mesmo que, como no caso dos bichos, eu às vezes tenha a impressão de que alguns só se importaram porque tem sangue no meio da história. Em outros casos, é "só" um xingamento, "só" uma piada, "só" uma recusa de emprego ou demissão, direito do patrão, quem mandou el@ ser escandalos@?

2.
Hoje toma posse a nova ministra de políticas públicas para mulheres. Quando eu não tinha ainda tido tempo para pesquisar e ler as notícias inteiras sobre o pronunciamento dela, já estava achando que ela era uma maluca que chegou no ministério chutando porta. Como sempre, quando se lê as letrinhas miúdas, aquelas que não são as letronas das manchetes, a gente vê que é tudo bem diferente.

SAP cristão: "Nova ministra é assassina, serva de satanás"
A mulher falou muita coisa relevante e bem dita, sobre direitos sexuais e reprodutivos, imagem da mulher na mídia, educação, papéis de gênero... Falou também que suas posições pessoais não são tão decisivas para o futuro do Ministério, que o ministério não é ela e que ela não decide nada sozinha (porque ainda precisa explicar isso para o povo). Nesse momento se via a chamada em letras garrafais: NOVA MINISTRA DEFENDE ABORTO. Sensatez manda lembranças, de terras distantes.

Não condeno a nova ministra, acho que no lugar dela eu não teria falado nada diferente. Mas, já me desculpando por ser a chata da vez, acho que com um assunto que a maioria das pessoas já se posiciona automaticamente contra sem refletir, como o aborto, quem é figura pública tem, sim, que falar chei@ de dedos. A presidenta Dilma também acha: fez um pronunciamento balde-de-água-fria na posse, cheio de palavras bonitas, tudo friamente calculado - como (dessa vez) bem disse a reportagem: para acalmar os evangélicos. Teve muita gente que não gostou, mas pelo que vi do discurso, Dilma só frisou bem o que a Eleonora falou sobre as decisões serem tomadas em conjunto, então só posso achar que está certo.
De qualquer forma, claro que me posiciono ao lado das feministas, que gostaram ou que não gostaram. A discussão do aborto e do estado laico foi levantada, bem ou mal, então vamos tentar manter o assunto no ar, discutir, refletir e etc. Teve twitaço pelo #estadolaico hoje, do qual não participei porque estava fazendo meu novíssimo twitter exatamente àquela hora. Mas sai um post aqui sobre isso ainda. Me aguardem :P

Aliás. Hoje fiz um twitter, que o marido prometeu que vai me ajudar a organizar em listas, no tweetdeck, para eu não perder horas inúteis lá. (já tive twitter outras duas vezes: deletei adivinha por quê?) Se alguém tiver alguma dica, eu tô aceitando.
Quem quiser me seguir, é aqui que estou: https://twitter.com/#!/marikrewer

Abraços e bom fim de semana!

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

29/01, dia da visibilidade trans

Ontem, dia 29 de janeiro, foi comemorado o dia nacional da Visibilidade Trans, e escrevo esse post atendendo ao chamado de blogagem coletiva das Blogueiras Feministas sobre esse tema.

Aproveitei a data para ir assistir o filme Tomboy (França, 2011), sobre um menino que nasceu em corpo de menina. Um filme ensolarado, suave, com atores ótimos, fotografia maravilhosa, que trata da diferença entre sexo e gênero com uma leveza incrível. Eu pensei que iria sair do cinema super consternada, pensativa, pela densidade do tema, mas não; fui ficar consternada e pensativa depois.

Procurando por informações, sinopses, histórico e fotos dos atores/atrizes, encontrei essa sinopse aqui:
Laure (Zoé Héran) é uma garota de dez anos que sofre dificuldades no relacionamento com seus pais. Quando a família se muda para uma nova vizinhança nos subúrbios de Paris, ela subitamente decide se vestir como um garoto e faz amizades com os meninos da região. O que antes era apenas um pretexto para conseguir amigos, acaba se transformando em algo mais sério.
Não há nada no filme que indique que existe dificuldade de relacionamento com os pais; muito pelo contrário, eu vi a família como muito amorosa e unida. A personagem não decide "subitamente" se vestir como menino: pela quantidade de roupas "masculinas" que ela tem, é lógico que Laure/Mikael gostava de se vestir assim há tempos, e que esse gosto era aceito pelos pais. Sobre se vestir de menino ser "apenas um pretexto para conseguir amigos", não sei se fico indignada pelo absurdo/preconceito da afirmação (se vestindo de menina el@ não conseguiria fazer amigos?) ou se penso que a pessoa que escreveu a resenha simplesmente não viu o filme, ou... Se alguém realmente interpreta as coisas dessa forma. É doloroso, mas não é difícil acreditar que deve ter quem tenha saído do cinema com nojinho e acreditando que Laure/Mikael é uma criança problemática, que foi malcriada, que "só quer chamar a atenção", e coisas assim.

Para o senso comum machista, ter nascido um indivíduo do sexo feminino (com útero, ovários, vagina) necessariamente acarreta diferenças no caráter, no comportamento, nas habilidades, em relação a nascer indivíduo do sexo masculino (com pênis e escroto), e a ligação entre o sexo e os esteriótipos de gênero, e a imposição do suposto papel de cada gênero no mundo, são automáticas. Para muitos, os trans só existem nas zonas de prostituição, esse é o único papel possível e aceitável para el@s. E além do preconceito individual, da família e da sociedade civil, ainda há o preconceito institucionalizado, que passa pela autorização que o Estado ainda dá para os trans serem hostilizados, junto com outros grupos minoritários, em nome de uma suposta liberdade de expressão e de culto; à pouca importância dada pela mídia e pela polícia aos crimes de discriminação, assassinatos, e agressões cometidas contra el@s; até ao não cumprimento de leis que garantiriam a dignidade para todos os cidadãos, como construção e acesso a políticas públicas de saúde específicas para suas necessidades.

Voltando do cinema com a minha amiga, ela disse "não sei porque as pessoas se preocupam com essas coisas tão pequenas", referindo-se, é claro, ao preconceito, de como seria mais simples se apenas aceitássemos os  outros como indivíduos. Pensei que sentir-se diferente do seu corpo, quando tudo ao seu redor te cobra entrar na caixinha pré-definida para sua genitália, deve ser um sofrimento individual muito grande, até mesmo se sua família te apóia, mesmo se você tem bons amigos. É a sociedade inteira te contrariando. Deve ser fácil concluir que é mesmo você que está errado (se quando você está fora de um padrão "pequeno", como o padrão de beleza, isso já pode gerar um sofrimento enorme... ). Por isso é necessário o dia, a conscientização de que esses problemas existem, e de que impor um esteriótipo a essas pessoas, diminuindo a importância da questão, não é mais satisfatório para nós como sociedade. 

Termino o post com um vídeo lindo da última campanha da Somos, que me inspirou para . Boa semana!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Tristango

Tem dias em que eu me vejo mergulhada num mundo que não parece meu. Cercada das melhores pessoas, das melhores chances, mas sem confiar se vou poder mantê-las perto, se consigo aproveitar sem destruir, se tudo não vai azedar... Ora me vejo paralisada pela minha pequenez perante as possibilidades, ora me vejo voando para tentar encher de amor tudo ao mesmo tempo agora. É uma felicidade infeliz, bipolar, melancólica. Mas a alternativa a isso é o aprisionamento, é o estanque, o "e se...". Então me sinto no direito de aproveitar toda essa angústia, que é uma angústia boa, como diz meu amor...





Tem Libertango! quarta-feira dia 25, às 20h, na sala Luiz Cosme da Casa de Cultura Mário Quintana, e  quinta dia 26 na Casa da Música, mesmo horário. 

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Ironias da vida (aviso de férias)

Eis que, por uma linda ironia da vida, no dia seguinte à minha colação de grau, que é dia 7 agora, vou viajar para fazer um curso de férias, que terminará apenas no dia 22 de janeiro.
O estudo, o violino, as aulas, os recitais, os concertos, a cerveja, o Xis Bebum do Circulu's ou os docinhos do calçadão de Pelotas provavelmente ocuparão todo meu tempo e energia, e isso significa 99% de chance de não aparecerem novos posts aqui no blog por pelo menos duas semanas.

O que posso fazer por você hoje é sugerir um documentário que saiu agorinha: Prova de Artista.


um documentário sobre audicionistas e audições de orquestras Brasil afora. Rotina, expectativas, o amor à arte, a renúncia, a solidão do estudo. Às vezes dá muita angústia, às vezes dá muita esperança e esquenta o peito. Um mergulho no mundo profissional da música de concerto. Muito bom, e pode ser assistido gratuitamente no site (http://provadeartista.com/) durante todo o mês de janeiro.


Se estiver em Porto Alegre, desligue o computador e trate de ir na Mostra de Dança Verão e no Porto Verão Alegre. Seus neurônios agradecem.
Você também pode ir ao MARGS, onde está acontecendo uma exposição com obras de artistAs brasileiras, apoiada pelo Coletivo Feminino Plural!



Muito bom janeiro para ti e para os teus, leitor!